Covos proibidos nas desertas para proteger Lobos Marinhos
Acabou de ser aprovado, em Conselho de Governo, o Decreto Legislativo Regional que define o novo regime jurídico da Reserva Natural das Ilhas Selvagens. O objetivo passa essencialmente por proibir a colocação de covos, uma arte de pesca que coloca em perigo os lobos-marinhos, em particular os juvenis, que são atraídos pelo peixe capturado no covo podendo ficar presos e causar a sua morte. Recentemente foi demonstrado que esta arte de pesca por armadilha constitui um dos fatores que mais impacto têm na mortalidade das crias de lobo marinho. Desta forma importa criar condições para que esta ameaça seja totalmente excluída das áreas onde a espécie se reproduz e onde os juvenis efetuam os seus primeiros eventos de alimentação em autonomia. Além da proibição de colocação de covos, o decreto prevê a criação de uma pequena zona de interdição de pesca de isco vivo e tunídeos dentro da área de Reserva Integral, numa área muito importante para a reprodução de lobos-marinhos, para que seja possível diminuir os distúrbios na área, em particular nas épocas de acasalamento e de nascimentos e garantir uma maior segurança para os animais, em particular os mais jovens que começam a se aventurar no mar e que, por inexperiência podem ver-se envolvidos em incidentes graves.
Assim, com a aprovação do Decreto Legislativo pretende-se assegurar uma maior proteção da população desta espécie e contribuir para a recuperação mais rápida daquela população.
Para a secretária regional de Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas, Susana Prada, este é mais um passo para a continuação das medidas de proteção ao lobo-marinho.
“Apesar de continuar a ser uma espécie em risco e muito vulnerável, temos assistido a um crescimento desta espécie que é muito acarinhada pelos madeirenses. Isso deve-se em grande parte às medidas de proteção e ao trabalho que o IFCN tem feito”, disse a governante adiantando que os covos são uma a arte de pesca por armadilha e que constitui um dos fatores que prejudica a aceleração da taxa de crescimento populacional, sendo importante que os fatores de mortalidade e ameaça sejam totalmente excluídos das áreas onde a espécie se reproduz e onde os juvenis começam a se alimentar com autonomia.
Recorde-se que o presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque, já tinha feito referência à necessidade de salvaguardar o património natural das Desertas, nomeadamente do Lobo-marinho, através da proibição da utilização de covos.
O património natural destas Ilhas, aliado a uma gestão adequada, fez com que em 2014 o Conselho da Europa atribuísse à Reserva Natural das Ilhas Desertas o mais elevado reconhecimento internacional para as Áreas Protegidas: o Diploma Europeu para as Áreas Protegidas. Em 2019, após uma avaliação no terreno, este galardão foi renovado por mais dez anos, o que constitui uma garantia de que existe um meritório trabalho de conservação da natureza naquela área, sendo, além disso, um desafio e uma responsabilidade acrescida para manter e melhorar o caminho trilhado há mais de trinta anos.
Para o sucesso de conservação desta área protegida tem sido determinante o trabalho do IFCN, nomeadamente através da presença dos Vigilantes da Natureza.
As Ilhas Desertas são uma das mais importantes áreas de nidificação de aves marinhas da Macaronésia e de todo o Atlântico Norte, possuindo condições singulares e únicas em todo o Mundo, estando classificadas como “Área Importante para as Aves e Biodiversidade” (IBA) no âmbito da BirdLife Internacional. Destaca-se a freira-do-Bugio Pterodroma deserta, endémica destas Ilhas e espécie prioritária da Rede Natura 2000, a cagarra Calonectris borealis, a alma-negra Bulweria bulwerii, o roque-de-castro Hydrobates castro e o garajau-comum Sterna hirundo, todas elas de interesse comunitário. As Ilhas Desertas apresentam amostras representativas de tipos de habitats e comunidades de flora e fauna que constituem exemplos típicos dos vários tipos de habitats naturais de interesse comunitário, como sejam as “enseadas e baías pouco profundas”, as “falésias com flora endémica das costas macaronésias”, os “matos termomediterrânicos pré-desérticos” e as “grutas marinhas submersas ou semi-submersas”.
A proteção do valioso património natural terrestre e marinho de grande valor ecológico e científico, bem como da paisagem ímpar das Ilhas Desertas é compatibilizada com atividades humanas, privilegiando-se o turismo de natureza e científico que tanto contribui para promover a Região. As Ilhas Desertas são visitadas anualmente por milhares de pessoas, sendo a atividade principal desenvolvida a visita guiada por um percurso interpretativo, seguindo-se a observação de vida selvagem.
Fonte: Secretaria do Ambiente, Recursos Naturais e Alterações Climáticas